quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Sobre EXODUS


EXODUS: imagens que não se despedem de nós
Clóvis Domingos

Sobre o trabalho do Grupo de Pesquisa ANTICORPOS (DEART/UFOP).

Como definir o belíssimo espetáculo apresentado por Daniela Maia, Éden Peretta, Georgiana Dantas, Mariana Arantes, Mayra Pimenta e Panmella Ribeiro? Um espetáculo de teatro-dança. Um espetáculo de teatro-imagem. Uma junção de artes cênicas (presença de corpos vivos), artes plásticas (o movimento dos corpos, figurinos, objetos e luz), artes visuais (a força poética das imagens) e artes sonoras (musicalidades que nos colocam em transe).

Um trabalho sobre os deslocamentos humanos. Vida, morte, chão, terra e caminho. Estados de alma. Orientalismos. Ancestralidades. A vida acontece no meio (na trajetória) quando nos deslocamos de uma margem à outra carregando nossas pequenas bagagens ( A cena de passagem de Éden). Como Sísifos, estamos sempre a procura de um lugar? Fazer de um espaço um lugar. Ou condenados ao exílio?

Partimos sozinhos ou levamos os outros agarrados em nossos corpos? Nossos mortos respiram por nossos poros? Somos reféns da memória e da história? Caminhamos sob o passado sempre presente?

A cena da trança de cabelos amarrados feito um “cordão umbilical”: como cortar, como separar, como nascer e como individualizar?

Foto de Gabriel Machado

O contemporâneo do tema numa atemporalidade, nos jogando no campo mítico. Nascimento e morte. A proximidade temática (materializada pelo “extraordinário artístico”) com a dinâmica quase cotidiana da cidade de Ouro Preto: “lugar de chegadas e partidas”.

A força das imagens através de quadros que se compõem em nossa frente (movimento e pausa) e estabelecem um tempo para se PERCEBER, receber a imagem, deixar-se afetar. A plateia respira junto (tempo partilhado), feito uma meditação, mas num ritmo potente que gera adesão ao que nos invade. Uma recepção tátil.

Cenas como paisagens nômades, flutuantes, arquetípicas e ritualísticas. A luz de Everton Lampe a simbolizar nossas claridades e escuros, dia e noite, medo e coragem, dor e alegria. Uma luz que também dança! Uma luz também peregrina.

Nos (anti)corpos dos bailarinos: desrostidade e despersonalização: eles são nós. E nossos sentidos dançam. Uma estética com linhas artaudianas. A referência ao butô. Um trabalho impactante apresentado com rigor técnico e aliando pesquisa e poesia.

Entre contemplação e experiência, senti os corpos dos viajantes, dos loucos, corpos-intensidade e errâncias infinitas. Na unidade de uma encenação plural todos os signos “falam”, sugerem e hipnotizam. Da roupa comum (início) à retirada dela chegando nas vestes ancestrais (os significativos figurinos de Bárbara Buzatti) e depois à nudez do final: SOMOS PÓ. (imagem do incenso).

ARRANCA MINHA PELE QUE EU QUERO NASCER DE NOVO!!!!

O teatro cósmico, as forças imateriais, a recepção calorosa da plateia que se sentiu transportada ao seu primitivo viver!!!!!

É o performer um imigrante? Como espectadores a encenação nos coloca migrando por diferentes correlações e sensações. Imagens que não nos abandonam.

Só nos resta o silêncio.
Fim de texto.
Fim de part/IDA.