EXODUS: imagens que
não se despedem de nós
Clóvis
Domingos
Sobre o trabalho do
Grupo de Pesquisa ANTICORPOS (DEART/UFOP).
Como
definir o belíssimo espetáculo apresentado por Daniela Maia, Éden
Peretta, Georgiana Dantas, Mariana Arantes, Mayra Pimenta e Panmella
Ribeiro? Um espetáculo de teatro-dança. Um espetáculo de
teatro-imagem. Uma junção de artes cênicas (presença de corpos
vivos), artes plásticas (o movimento dos corpos, figurinos, objetos e
luz), artes visuais (a força poética das imagens) e artes sonoras
(musicalidades que nos colocam em transe).
Um
trabalho sobre os deslocamentos humanos. Vida, morte, chão, terra e
caminho. Estados de alma. Orientalismos. Ancestralidades. A vida
acontece no meio (na trajetória) quando nos deslocamos de uma margem
à outra carregando nossas pequenas bagagens ( A cena de passagem de
Éden). Como Sísifos, estamos sempre a procura de um lugar? Fazer de
um espaço um lugar. Ou condenados ao exílio?
Partimos
sozinhos ou levamos os outros agarrados em nossos corpos? Nossos
mortos respiram por nossos poros? Somos reféns da memória e da
história? Caminhamos sob o passado sempre presente?
A cena da
trança de cabelos amarrados feito um “cordão umbilical”: como
cortar, como separar, como nascer e como individualizar?
Foto de Gabriel Machado
O
contemporâneo do tema numa atemporalidade, nos jogando no campo
mítico. Nascimento e morte. A proximidade temática (materializada
pelo “extraordinário artístico”) com a dinâmica quase
cotidiana da cidade de Ouro Preto: “lugar de chegadas e partidas”.
A força
das imagens através de quadros que se compõem em nossa frente
(movimento e pausa) e estabelecem um tempo para se PERCEBER, receber
a imagem, deixar-se afetar. A plateia respira junto (tempo
partilhado), feito uma meditação, mas num ritmo potente que gera
adesão ao que nos invade. Uma recepção tátil.
Cenas
como paisagens nômades, flutuantes, arquetípicas e ritualísticas.
A luz de Everton Lampe a simbolizar nossas claridades e escuros, dia
e noite, medo e coragem, dor e alegria. Uma luz que também dança!
Uma luz também peregrina.
Nos
(anti)corpos dos bailarinos: desrostidade e despersonalização: eles
são nós. E nossos sentidos dançam. Uma estética com linhas
artaudianas. A referência ao butô. Um trabalho impactante
apresentado com rigor técnico e aliando pesquisa e poesia.
Entre
contemplação e experiência, senti os corpos dos viajantes, dos
loucos, corpos-intensidade e errâncias infinitas. Na unidade de uma
encenação plural todos os signos “falam”, sugerem e hipnotizam.
Da roupa comum (início) à retirada dela chegando nas vestes
ancestrais (os significativos figurinos de Bárbara Buzatti) e depois
à nudez do final: SOMOS PÓ. (imagem do incenso).
ARRANCA
MINHA PELE QUE EU QUERO NASCER DE NOVO!!!!
O teatro
cósmico, as forças imateriais, a recepção calorosa da plateia que
se sentiu transportada ao seu primitivo viver!!!!!
É o
performer um imigrante? Como espectadores a encenação nos coloca
migrando por diferentes correlações e sensações. Imagens que não
nos abandonam.
Só nos
resta o silêncio.
Fim de
texto.
Fim de
part/IDA.